EDUCAÇÃO,
CULTURA E RELIGIÃO (*)
A
rigor todas as três têm muito em comum. Até certo ponto pode-se dizer que elas
convergem e se tornam uma mesma coisa. Vale dizer : um homem educado é - ou
deveria ser - um homem culto e, mesmo que ele não admita, é também religioso.
Educação, cultura e religião são apenas nomes diferentes de um mesmo processo
de desenvolvimento que culmina na perfeição, uma meta que todos almejam
alcançar.
Examinemos
primeiro o inter-relacionamento entre educação e cultura. Será possível
imaginar educação sem que a cultura seja seu corolário imediato ? Que é
educação senão a melhoria do indivíduo como um todo ? Primordialmente ela deve
melhorar a mente do indivíduo, o que significa a melhoria de seus pensamentos,
de sua postura para com o próximo, sua conduta, sua fala e seus atos. Para que
seja digna de seu nome a educação deve se esmerar em promover um
aperfeiçoamento na personalidade do
estudante, sob todos os pontos de vista : físico, intelectual e moral.
Nos dias de hoje a ênfase é direcionada para a melhoria intelectual, o que está
perfeitamente certo. No entanto, para ser bem equilibrada, deveria ser
acompanhada dos desenvolvimentos físico e moral. Se uma pessoa educada é
fisicamente fraca ela pode anular todo o progresso que tenha feito
intelectualmente. Pior, contudo, é o caso do homem educado que se torna
moralmente fraco. Que paradoxo : um homem educado ser moralmente doentio ! Se
ele é intelectualmente amadurecido deveria mostrar esta maturidade no poder de
discriminar entre o certo e o errado e fazer apenas aquilo que é certo. O
requisito mais elementar é que ele seja
estritamente moral. Não deveria prejudicar o próximo, deveria ser
modesto, preocupar-se com os outros, ajudando-os na medida de suas possibilidades.
Em outras palavras: o padrão de avaliação para um homem educado está no caráter
que tem e não meramente no montante de conhecimentos que possui. Ele deve
demonstrar que é imensamente um homem melhor em virtude da educação que
recebeu; melhor como pessoa e melhor
pelo seu caráter.
Mas
quais são os critérios que definem um homem culto? Os parâmetros de um homem
culto estão em suas predileções e temperamento, sua natureza e seus hábitos, no
grau de refinamento que demonstra no trato com o próximo; ou seja, no homem bom
que é, no seu caráter, na forma que se conduz no dia-a-dia da vida. Obviamente,
estas são qualidades que emanam da verdadeira educação. Cultura, em síntese, é
a culminância da educação.
E
o que é religião? Religião é um tipo de desenvolvimento que também é visível no
caráter que se tem. Ela estimula o crescimento interior. Antes de mais nada ela
expande nosso ser, tal como se tivéssemos saído de uma concha e nos sentíssemos
cá fora identificados com os demais. Ela destrói nosso ego estreito e tacanho,
substituindo-o por um ego que abarca o universo inteiro. Se um homem religioso
é piedoso, isto é devido a esta expansão. É honesto, igualmente, porque o
crescimento que a religião propicia só é possível quando são observados princípios
éticos.
Assim, educação, cultura e religião superpõem-se, visto que a meta da evolução humana é a perfeição. Caminharão sempre lado a lado, uma conduzindo à outra. Um homem adequadamente educado é um homem culto (isto é o mínimo que se pode esperar dele); um homem culto é também um homem religioso porque a cultura abrange as qualidades que a religião inspira e sustenta. As três são partes inseparáveis de um processo de crescimento comum que leva à perfeição, o objetivo supremo da vida.
(Extraído de Practical Spirituality, Swami
Lokeswarananda, publicado por The Ramakrishna Mission Institute of Culture, Calcutta, India)